sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

DIMENSÃO CORPORAL DO SER HUMANO


I DIMENSÃO CORPORAL DO SER HUMANO

1. O corpo como coisa material

Perceber o ser humano implica antes e primeiro de tudo apreendê-lo na sua materialidade, ou seja, naquilo que se apresenta pela exterioridade humana, na sua constituição corpórea (altura, peso, cor, etc.).
[1] Diante disso, a apreensão sobre o humano é possível desde o seu corpo – base somática para o surgimento dos processos da consciência perceptiva. O ser humano é constituído por um corpo que é matéria.
O corpo humano possui uma constituição material, tendo uma multiplicidade de materiais que compõe o seu todo. Estudos recentes da ciência mostraram que o ser humano é formado por matéria viva, que possui, em si mesma, a força da vida. Na sua organização e estrutura corporal
[2] o ser humano é formado por micro-células, sendo que toda matéria que a compõe é constituída de átomos e moléculas.
O ser humano possui uma composição físico-química. O corpo é formado por substâncias inorgânicas, mas também de substâncias orgânicas,
auxiliam para a constituição do ser. Estas, por sua vez, têm em seu centro átomos, que são formados de carbono, que possibilitam a formação de longas cadeias contendo outros átomos, como os de oxigênio, nitrogênio e hidrogênio. Com a ausência da alma no corpo humano, esta cadeia se rompe, fazendo com que o corpo vá se decompondo até voltar ao pó.
Stein ao abordar o corpo humano, concebe este, como “corpo vivo”,
[3] assumindo assim a posição de seu mestre Edmund Husserl.[4] Pode-se constatar que o ser humano é um ser vivo que se percebe pelas manifestações de seu corpo que em si é sensível (emoções, sensibilidade) e inteligível (caráter racional-perceptivo).
O ser humano experimenta em si mesmo a Erlebnis (vivências), que se tornam possíveis pelo seu próprio corpo, que é constituído de sensações e percepções. A percepção compreende a manifestação do seu corpo, que é vivo, pois possui em si o movimento da vida como manifestação de uma consciência que pode apreender-se e apreender o mundo em seu entorno.
A Palavra Alemã Erlebnis, utilizada por Dilthey
[5] tem um significado muito diferente da empregada por Husserl. A diferença está na maneira que ambos interpretam o significado do termo “experiência vivencial”. Dilthey emprega a expressão Erlebnis, com o sentido de reviver, viver de novo a experiência na história. De certa forma, ele dá uma ênfase maior no aspecto ativo e passivo do eu psíquico e físico, ficando apenas nestes pontos e não o aprofundando. “Por outro lado, reivindicando a historicidade da consciência, ele ressalta fortemente a importância do nacherlebem, do reviver.”[6] Com esta interpretação, Dilthey procura compreender a história a partir do sujeito, nas suas vivências marcadas por diversas relações contextuais. É importante que o ser humano reviva tal fato, para assim chegar à compressão da história.
Husserl e Stein compreendem o termo Erlebnis de maneira diferente. Para eles este termo não pode ser uma identificação do reviver completamente, mas se refere a algo maior que o meramente histórico, e que, como tal, implica na interioridade do ser humano na sua complexidade de sujeito conhecedor que tem um corpo biofísico que sente e que pensa.
O termo Erlebnis, que a esta altura traduzimos convencionalmente como “experiência vivencial” – ,mas seria melhor usar a expressão “o que se vive” -, nos escritos de Husserl tem um significado totalmente diferente. Ele se refere aos atos característicos da interioridade do ser humano que vão desde a percepção até a recordação, a imaginação, o pensamento e assim por diante, entendidos como elementos estruturais e constitutivos da consciência. Como base nas peculiaridades desses atos é possível identificar três dimensões no ser humano: a dimensão corpórea, a psíquica e também a espiritual.
[7]
Husserl procura compreender a história do ser humano, analisando se há uma continuidade de fatos, levando em conta as percepções do sujeito e o que ele faz no movimento de seu corpo, material, vivo. Husserl não faz uma análise historicista, como propusera Dilthey. Para ele a Erlebnis exerce uma função importante na materialidade, isto é, no corpo humano. É ela que auxilia, a compreensão do desenvolvimento humano, como também na percepção do seu corpo como fenômeno que se revela de uma forma sui generis à consciência perceptiva.

1.1 O fenômeno do corpo

Ao analisar a realidade humana, dentro de uma postura fenomenológica, pode-se averiguar que o primeiro fenômeno que é apresentado, manifestado, é a realidade material: o corpóreo. O corpo como instância material é básico para a manifestação do ser humano. Isto ocorre a partir de suas vivências.
O ser humano é formado por matéria. Ela é a base para que surja o ser humano como um fenômeno, complexo, que tem algo a dizer, a revelar. Na visão de Stein, o corpo humano possui uma forma que lhe é conferida pela alma.
[8] A alma dá ao corpo a anima, fornecendo a possibilidade da Erlebnis, da experiência vivencial. Com efeito, a estrutura corporal-psíquico-espiritual do ser humano demonstra a sua complexidade, que implica, necessariamente, uma base físico-química.
A própria estrutura física do corpo se torna complexa, pois, remete a átomos, células, órgãos, sistemas psicossomáticos. Na visão de Stein, o corpo como base material fenomênica se faz necessário para que a vida se dinamize nas dimensões psíquica e espiritual. A estrutura do corpo humano é “determinada y cerrada en si misma”;
[9] ela possui uma unidade que garante a sua organicidade e como tal a sua singularidade.
O corpo humano é formado com matérias heterogêneas, que possuem naturezas diferentes.
[10] Com efeito, isto pode ser demonstrado pelos diversos tipos de tecidos, sistemas e órgãos que o ser humano possui. Cada elemento, ou órgão desses exerce uma determinada função no organismo humano. Eles geram o funcionamento e a possibilidade do corpo vivo vivenciar processos de transformação, através do princípio organizador do órgão, que faz parte de todo o ser humano como uma corporeidade viva, capaz de intencionar e perceber para dar significado à sua percepção.
No processo de desenvolvimento do ser humano tudo está posto com uma finalidade e com uma estrutura que tem uma organização presente: esta coloca limites e possibilidades. Por isto, o ser humano tem como característica a determinação interna em si mesmo, considerando que o corpo é o princípio de individualização do ser. Edith é bem rigorosa ao falar sobre isto, para ela o corpo humano é um fenômeno estruturado da seguinte maneira:

[...] la estructura del cuerpo humano, formado por miembros y órganos, lo cual no es lo mismo que estar formado por diferentes partes materiales: esas últimas se hallan estructuradas en miembros, mientras que los miembros y órganos constan a su vez de diversas partes materiales. Los miembros son unidades morfológicas relativamente cerradas, y como tales proporcionan un hilo conductor a la investigación ulterior.
[11]



Com o auxílio da fisiologia ou da anatomia pode-se, de fato, aprofundar aquilo que é apresentado pela matéria, fazendo um estudo mais profundo de toda organização corporal. O sentido da fisiologia está na busca em conhecer a estrutura do corpo humano. Como ele é constituído interiormente e de que é formado o seu interior.
Ao constatar que o corpo é formado por substâncias materiais, e que ele tem uma estrutura tanto interna e externa, pode-se perceber que há uma simetria e um equilíbrio no corpo humano. Ao confrontar o ser humano com o animal, constatam-se diferenças essenciais, segundo Stein, como: “[...] la posición vertical, la desnudez como una relativa falta de cobertura de la figura básica y la relativa visibilidad de la estructura interna del cuerpo a través de la figura superficial.”
[12]
Aqui fica evidente que Stein afirma que o ser humano possui uma característica importante que se refere à sua capacidade de posicionamento vertical. O corpo humano como um fenômeno é percebido no seu movimento que se organiza e nasce desde um centro vital que lhe garante a capacidade de sustentação de sua verticalidade. Este centro pode ser chamado de coluna vertebral, que é espaço vital que sustenta o corpo e a experiência de si. Esta coluna faz com que o homem e a mulher se posicionem com uma postura ereta, vertical, pela qual o ser se coloca frente à força da gravidade e aos desafios da vida.
A posição vertical é uma das diferenças entre o ser humano e o animal, pois, faz com que aconteça um descolamento do mundo natural no sentido de diferenciar o ser humano pela sua postura, habilidades e competências para o ser.
[13] O posicionamento vertical significa o nascimento da consciência do eu. Ele indica que o ser humano toma uma posição ou rejeita o que está dado. Na sua verticalidade, o ser humano sustenta a sua posição como ser que percebe, pensa e age com capacidades para enfrentar os desafios da sua existência.
Por outro lado, comparando com outros animais, Stein afirma que o ser humano não tem uma cobertura natural no sentido de não possuir grandes quantidades de pêlos. Isso implica na tomada de uma consciência para a sua autodefesa, pois não há um revestimento do corpo como nos animais. Stein quer destacar a questão da sensibilidade no ser humano e da sua fragilidade corporal, logo material. A própria sensibilidade do corpo leva o homem a se cobrir, não simplesmente por uma questão moral, mas por uma questão natural de proteção frente às flutuações do tempo e do espaço no mundo.
O fato de o ser humano não ter este tipo de cobertura faz com que se tenha certa visibilidade da interioridade do seu corpo. Fenomenologicamente no movimento do ser humano desde um centro vital inteligente que sustenta o seu corpo, a visibilidade da estrutura externa do corpo pode ser percebida, para, então, se ter uma compreensão do seu interior. Logo, se pode perceber o que poderá estar passando em sua interioridade corpórea, pois esse processo possibilita o desenvolvimento das estruturas do seu todo.
O ser humano como fenômeno corporal pode se apresentar na forma do masculino ou do feminino. Isso implica uma experiência corporal marcada por uma individualidade e singularidade, que aponta um estado de incompletude, de busca de integração e identidade.
Segundo Stein, cada ser humano é contemporaneamente masculino e feminino, ainda que haja a prevalência de um aspecto ou de outro, sendo que essa diferença se manifesta a nível psíquico, corporal e espiritual. Por isso podemos falar de ser humano em sua generalidade, como formado de corpo, espírito e psique, mas é preciso também darmo-nos conta de que os seres humanos – tomados em sua concretude existencial – são sempre homens e mulheres.
[14]
Como o ser humano está em desenvolvimento, em devir, conforme as leis naturais do corpo humano, constata-se que o devir, a transformação corporal acontece de fato, através do desenvolvimento do corpo vivo. Este desenvolvimento do corpo é permitido devido às leis naturais da materialidade que impulsionam as transformações singulares e garantem suas características principais. O ser humano está em constante desenvolvimento, e isto se dá pelas fases que ele passa, isto é: a fecundação, o nascimento, a infância, a juventude, a fase adulta, a fase idosa.
Com a fase embrionária o ser humano começa seu desenvolvimento como pessoa humana, e tem o seu declínio na fase idosa com a morte, nos casos de morte natural. Com a morte o ser humano não se apresenta mais como um corpo vivo, mas apenas körper (massa corpórea).
A partir da interioridade do corpo vivo, que se apresenta como fenômeno em movimento, se pode apreender o que possivelmente passa por suas células sensível-inteligíveis que se auto-organizam em toda a sua estrutura biofisiológica. O corpo humano tem em si a característica do movimento que implica organização vital. Antes mesmo do ser humano se mover, ele sente em si o movimento de sua corporeidade.
[15] O corpo tem em si mesmo a possibilidade do repouso, mas também a possibilidade do movimento. O movimento se origina a partir de um centro, quando o ser humano se coloca na posição vertical, o mover pode se dar por diferentes maneiras, para os lados, para cima e para baixo, no interior do próprio corpo.
O mover pode ser atingido por algo que pode estar além do corpo mesmo, não se movendo de maneira mecânica, fechada e predeterminada. Mas o movimento é sempre nova possibilidade de criação e realização do inusitado. O movimento pode acontecer a partir de dentro, mas também de fora. Tem-se os movimentos externos e físicos ou internos e orgânicos.
Nesse processo o ser humano possui uma facilidade para a movimentação de seu corpo devido à maneira em que ele é estruturado. Edith Stein fala na obra Estrutura da Pessoa Humana que: “Encontramos movimientos con los que, según parece, el cuerpo sigue sus propias leyes, y otros en los que está sometido a una legalidad externa.”
[16] Segundo esta percepção de Stein, o ser humano no “mundo da vida”[17] possui no interior de seu ser a expressão corporal, essa é dada pelo movimento de seu corpo e de uma maneira ou outra implica criatividade.
O ser humano, na expressividade do corpo apresenta a facilidade de movimentar suas mãos. Movem-se os braços e as mãos de diversas maneiras, mas este movimento está em sintonia com determinados eixos de sua estrutura, como o caso da sua coluna vertebral, seu coração, seu pulmão. Há algo intrínseco ao movimento que dá uma organização e um sentido peculiar ao corpo. Corroborando com esta idéia, escreve Stein: “Las manos, así, tienen una movilidad especialmente alta y diferenciada.”
[18] Elas são os elementos do corpo que possibilitam a percepção sobre o eu e do outro, logo, a apreensão do mover-se a partir de dentro. O movimento das mãos e do rosto aponta a grande possibilidade que ambos têm de expressão, pois, neste caso o movimento acontece a partir da interioridade do ser. O ser humano “fala” com o rosto e com as mãos.
Realmente é de grande relevância o fenômeno apresentado sobre a mobilidade das mãos, elas têm em si a manifestação da corporeidade entendida com um todo complexo formado de matéria, psique e espírito. Por exemplo: as mãos para os surdos têm grande importância, pois através da Linguagem Brasileira dos Sinais (LIBRAS), acontece uma comunicação, na qual o corpo, pelas mãos, expressa uma linguagem. Esta linguagem demonstra o poder ser do corpo vivo que se expressa de muitas formas. Aristóteles já dizia que as diferentes formas de ser são formas para conhecer. Essa idéia mostra que as diferentes formas com que o corpo se comunica indicam níveis de conhecimento sobre si e sobre o mundo como um espaço fenomênico.
O ser humano não é estático, está sempre em devir, em movimento. A alma, enquanto psique, é o centro de todo o movimento e gera a vida. Edith Stein fala que “El rostro supera todas las demás partes del cuerpo por la facilidad y multiplicidad de sus movimientos.”
[19] A face humana tem a capacidade de demonstrar aquilo que passa no mais profundo no ser, na interioridade de cada ser humano. O rosto como ícone do ser humano, tem a grande possibilidade de expressão, pois exprime aquilo que está no âmago do ser humano, como sentimentos de alegria e de tristeza; pelo rosto pode-se apreender o ser humano na sua plenitude, na sua interioridade.
O corpo humano tem uma unidade e esta unidade é composta de diversos membros e órgãos, que são organizações fechadas em si mesmas, mas com a possibilidade de se desenvolverem. Como é sabido, o ser humano não tem um “corpo morto”, mas sim um “corpo vivo”, por isto, na sua interioridade, o ser humano é capaz de sentir o movimento que lhe acontece no interior do seu ser. Ele é capaz de sentir todo o movimento processual que é gerado ao comer ou beber alguma coisa.
O ser humano tem a capacidade de assimilar pelos sentidos aquilo que se passa nele mesmo. Stein diz em sua obra sobre a estrutura da pessoa humana que: “En su movimiento, el organismo sigue la ley de su forma interna.”
[20] Pode-se constatar que o ser humano, até mesmo no interior do seu ser, é fenomênico, manifestando, assim, o fenômeno do movimento dentro do corpo vivo.
Todo o movimento que acontece no interior do ser humano é gerado pelas leis que regem o corpo, sendo que essas leis reagem às atividades corporais com a alma. O organismo consiste na totalidade de órgãos que o corpo humano possui. Os órgãos são regidos por centros que possibilitam o seu bom funcionamento e isso é o fenômeno do corpo como corpo.

1.2 O corpo como matéria informe

Entende-se que o ser humano é constituído por um corpo, e este, por sua vez é formado por uma alma. A ausência de alma em um corpo o deixa como matéria informe.
Los cuerpos son materia formada (o determinada por la forma) que llenan el espacio. La materia formada, en cuanto es informe y, por tanto, no está plenamente determinada por la forma, no tiene ningún ser. La materia adquiere el ser y la determinación por medio de la forma. Las cosas que se halan en el espacio e cuya acción es un determinado acontecer en el espacio, tienen formas, cuyo ser está ligado a una materia espacial. No poseen nengún ser fuera de la materia, a la que ellas mismas dan el ser y la determinación. Por eso se denominan formas materiales, aunque ellas mismas no sean materiales. Puesto que ellas no pueden existir por sí, sino únicamente en su materia, no podemos atribuirles ninguna subsistencia. La totalidad, compuesta de forma y de materia, es la substancia, que es la que subsiste.
[21]
Para falar no e sobre o ser só se dá a partir do momento em que a matéria informe recebe em si a forma (alma). O corpo humano unido à alma torna-se um organismo vivo, e a partir desta infusão da alma no corpo, a matéria deixa de ser informe, mas passa a ser determinada por uma forma, ela se apresenta como ser. Compreende-se então o ser humano corpóreo, substancial, que subsiste pela união da alma.
Tendo a perspectiva de que o corpo vivo consiste em ter uma forma que possibilite o ser de um organismo vivo, deve-se questionar o que acontece com o corpo, com a separação desta forma (alma). Segundo a tradição filosófica cristã, observa-se que a separação de corpo perante a alma gera no ser humano corporal a morte, e esta por sua vez traz conseqüências à matéria. Stein fala que: “Para el cuerpo, esa muerte significaba el cese se su existencia como cuerpo, la descomposición en los diversos materiales estructurales.”
[22] Observa-se com esta afirmação, a importância da alma para o corpo, sem ela, a matéria chega ao seu fim, decompondo-se e voltando para o pó. Essa submissão do ser corporal-anímico a determinada composição material pode causar no ser humano a possibilidade da morte corporal. Explicando isso escreve Stein:
Tenemos que reflexionar sobre lo que esto significa para el cuerpo y para el alma. En cuanto al cuerpo, es evidente que con el momento de la muerte deja de ser cuerpo. Porque ser cuerpo significa ser vivente y funcionar como un organismo. Sin el alma, el cuerpo es materia muerta, una estructura puramente material. (Tomás expresó repetidas veces que es simple equivocación el seguir llamando “ojo” al ojo del muerto, y “oído” al oído del muerto). La consecuencia es que las materias de las que están formando el cuerpo, se ajustan ahora a su natutaleza material y se disgregam según las leyes del acontecer material. La muerte significa para el cuerpo la destrucción, la supresión de su naturaleza.
[23]
Como Edith apresenta, o fenômeno do ser corporal do humano finda com a morte. A partir da separação entre alma e corpo, este, por sua vez, deixará de ser corpo, e começa a sua destruição, como a própria autora relata acima. O corpo começa a se desintegrar, pois perde sua imunidade; sendo assim, a matéria humana começa a ser atacada por bactérias que são produzidas pelo próprio corpo, tendo como pressuposto a falta de oxigenação que gera no cadáver um desequilíbrio e logo, a sua deteriorização.
O corpo sem alma deixa de ser um corpo vivente, pois perde as características do ser vivo, a sensibilidade. Esta temática da matéria informe remete esta pesquisa para outra dimensão tripartida do ser humano, a dimensão psíquica, que é a responsável pelo ser anímico do ser vivente que se irá abordar a seguir.
[1]Cf. Coelho Júnior, Achilles Gonçalves; Miguel, Mahfoud. A relação pessoa-comunidade na obra de Edith Stein. . Acesso em: 05 abr.2008,p.10.
[2]Sobre isso se falará mais adiante.
[3]Expressão utilizado por Husserl e seus discípulos para designar o corpo animado pela alma.
[4]Filósofo e matemático de origem alemã, nasceu no dia 8 de abril de 1859, em Prosznitz. Estudou matemática em Berlim, onde seguiu os cursos de álgebra.Teve aulas com Franz Brentano, torna-se discípulo do mesmo. Em Halles fez livre docente em 1887. Foi nomeado professor na Universidade de Gotinga, Friburgo e Breslau. Husserl é o responsável pela sistematização da fenomenologia.
[5]Filósofo alemão. Nasceu em 1833 no presbitério de Biebrich-Mosbach e faleceu em 1911. Estudou na universidade de Berlim. Foi um dos principais opositores do positivismo. Seu nome esta ligado fortemente ao movimento filosófico do historicismo.
[6]BELLO, Ângela Ales. Cultura e Religiões: uma leitura fenomenológica. Tradução de Antônio Angonese. Bauru, SP: EDUSC, 1998. p. 26.
[7]BELLO, 1998, p. 26.
[8]Para Edith Stein, a alma ou psique, é forma do corpo, como também é a responsável pelos impulsos e tensões do ser humano; ela assume em parte uma posição aristotélico-tomista que será apresentado no próximo capítulo. A alma vai ser a anima do corpo, e ela que vai fazer com que o corpo seja um corpo vivo, sem a sua presença o corpo torna-se massa corpórea, só a matéria sem vida.
[9]STEIN, Edith. Estructura de la persona humana. In:______. Obras completas: Escritos antropológicos y pedagógicos. Tradução Sancho, Francisco Javier. Vitória; Burgos: El Carmen; Espiritualidad; Monte Carmelo, 2003. p. 596. “determinada e fechada em si mesma” (tradução nossa)

[10]Cf. Ibid., p. 596.
[11]STEIN, E. La estructura de la persona humana. Tradução José Mardomingo. Ed. Biblioteca de autores cristianos. Espanha: Madri, 2003, p. 41. “a estrutura do corpo humano, formado por membros e órgãos, o qual não é o mesmo que estar formado por diferentes partes materiais: essas últimas se acham estruturadas em membros, enquanto que os membros e órgãos constam por sua vez de diversas partes materiais. Os membros são unidades morfológicas relativamente fechadas, e como tais proporcionam um fio condutor à investigação ulterior.” (tradução nossa)
[12]STEIN, op, cit., p. 597. “a posição vertical, a desnudes com uma relativa falta de cobertura da figura básica, e a relativa visibilidade da estrutura interna do corpo através da figura superficial.” (tradução nossa)
[13]SAFRA, Gilberto. A fenomenologia de Edith Stein: O Homem como coisa material e organismo vivo [gravação de vídeo]. São Paulo: Edições Sobornost, 2005.
[14]Bello, Angela Ales. Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião. Bauru: Edusc; 2004. p. 132.
[15]Informa-se que sobre a corporeidade se abordará mais adiante.
[16]STEIN, 2003., p. 598. “Encontramos movimentos com que, segundo parece, o corpo segue suas próprias leis, e outros em que estão submetidos a uma legalidade externa.” (tradução nossa)
[17]Expressão utilizada por Edmund Husserl e por grande parte dos fenomenólogos.
[18]Ibid., p. 599. “as mãos, assim, têm uma mobilidade especialmente alta e diferenciada.” (tradução nossa)
[19]Ibid., p. 599. “o rosto supera as demais parte do corpo pela facilidade e multiplicidade de seus movimentos.” (tradução nossa)
[20]Ibid., p. 602. “em seu movimento, o organismo segue as leis de sua forma interna.” (tradução nossa)
[21]STEIN, Edith. ¿Qué es el hombre? La antropología de la doctrina católica de la fe. In:______. Obras completas: escritos antropológicos y pedagógicos. Tradução Sancho, Francisco Javier. Vitória; Burgos: El Carmen; Espiritualidad; Monte Carmelo, 2003. p. 770. “Os corpos são matéria formada (ou determinada pela forma) que enchem o espaço. A matéria, enquanto é informe, e portanto, não está plenamente determinada pela forma, não tem nenhum ser. A matéria adquire o ser e a determinação por meio da forma. As coisas que se encontram no espaço e cuja ação é um determinado acontecer no espaço, tem formas, cujo ser está ligado a uma matéria espacial. Não possuem nenhum ser fora da matéria, dão à elas mesmas o ser e a determinação. Por isso se denominam “formas materiais”, ainda que elas mesmas não sejam materiais. Posto que elas não podem existir por si, senão unicamente em sua matéria, não podemos atribuir-lhes nenhuma subsistência. A totalidade, composta de forma e de matéria, é a substância, que é a que subsiste.” (tradução nossa)
[22] Ibid., p. 788. “Para o corpo, essa morte significa o fim da sua existência como corpo, a decomposição nos diversos materiais estruturais.” (tradução nossa)
[23]Ibid., p. 785. “Temos que refletir sobre o que isto significa para o corpo e para a alma. Enquanto, ao corpo, é evidente que com o momento da morte deixa de ser corpo. Porque ser corpo significa ser vivente e funcionar como um organismo. Sem a alma, o corpo é matéria morta, uma estrutura puramente material. (Tomás expressou repetidas vezes que é simples equivocação o seguir chamando “olho” ao olho do morto, e “ouvido” ao ouvido do morto). A conseqüência é que as matérias das que estão formando o corpo, se ajustam agora a sua natureza material e se desagregam segundo as leis do acontecer material. A morte significa para o corpo a destruição, a supressão da sua natureza.” (tradução nossa)

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